X
BUSCA
QUEM SOMOS
ASSOCIADAS
NOTÍCIAS
VISÃO APROBIO
VÍDEOS
LINHA DO TEMPO
ENTRE EM CONTATO
ASSESSORIA DE IMPRENSA
30 abr 2024

Aéreas cobram apoio para combustível sustentável, mais caro que querosene tradicional

As companhias aéreas brasileiras afirmam que estarão preparadas para iniciar o uso do Sustainable Aviation Fuel (SAF), o combustível sustentável de aviação, a partir de 2027. A princípio, será feita a mistura com o querosene de aviação, que é atualmente utilizado nas aeronaves.

O custo do biocombustível, porém, pode ser até 4 ou 5 vezes maior do que o atual, o que preocupa o setor, que já vem passando por uma crise desde a pandemia de Covid-19. Para minimizar os prejuízos e acelerar a transição energética, as empresas pedem que o governo desenvolva programas de incentivo fiscal ou de aumento na oferta no produto.

O projeto de lei do combustível do futuro aprovado no início de março, na Câmara dos Deputados, obriga as companhias aéreas a reduzirem emissões de gases de efeito estufa a partir de 2027, partindo de 1% até 10% nas emissões de gases até 2037. Isso precisa ser feito usando o SAF, o combustível sustentável de aviação. Esse combustível pode ser produzido por meio de um novo processamento do etanol, óleo de cozinha, ou biomassa. Hoje, usa-se majoritariamente o queresone para aviação.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o Brasil pode elevar a produção de biocombustíveis em 11,7% até 2026. Apesar do alto potencial de produção de combustíveis derivados de vegetais, o país ainda engatinha na transformação desses produtos em SAF. A Petrobras prevê o desenvolvimento de uma unidade dedicada à produção de SAF na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão, mas ainda não dá um prazo para início da produção.
— Para termos um volume de SAF suficiente, precisávamos de um marco regulatório. Esse texto do projeto de lei funciona dando segurança aos investidores. No curto e no médio prazo, as empresas já têm planejado trocas de aeronaves para motores mais modernos, que emitem menos CO2 na combustão. No longo prazo, o objetivo é ter no Brasil uma política de incentivo para a produção de SAF com preços competitivos — disse a presidente da Abear, Jurema Monteiro.
 

Sem motor especial
 
Apesar do plano de troca de aeronaves, o SAF não precisa de um motor diferente para ser utilizado, uma vez que o princípio ativo do querosene de aviação e do SAF exigem a mesma resposta no momento da combustão. A principal mudança logística será a necessidade de uma “central” de misturas dos dois combustíveis (QAV + SAF), que idealmente ficaria próximo aos aeroportos.

— Hoje, o SAF chega a custar até 4 vezes mais caro que o querosene de aviação. O barateamento do produto é uma discussão mais ampla que deve ser feita pelo governo. Existe um modelo de incentivo nos Estados Unidos para uso de SAF, por exemplo, que tem funcionado bem. Mas temos a expectativa de começar o uso da mistura já em 2027, sem nenhum problema — afirma Eduardo Calderon, diretor do Centro de Controle de Operações (CCO) e Engenharia da Gol Linhas Aéreas.

A Latam destaca que um dos principais desafios é promover a descarbonização do setor sem aumentar os custos a ponto de impedir o acesso das pessoas ao transporte aéreo.

— Em busca de uma indústria mais verde, não pode ocorrer um aumento significativo do preço das passagens a ponto de tornar a aviação proibitiva para a maior parte da sociedade. O cenário hoje é de disponibilidade limitada e altos custos. Atualmente, a produção de SAF é suficiente para 0,15% da demanda mundial e seus valores são até 5 vezes superiores ao combustível de aviação convencional. – afirmou Lígia Sato, gerente de Sustentabilidade da Latam Brasil.
 

Governo não quer incentivo agora
 
O Ministério de Minas e Energia afirma que, por enquanto, o desenvolvimento de tecnologias para produção de SAF no território nacional está, em sua maioria, a cargo do setor privado, e ainda não prevê programas de incentivo ao novo combustível. O ministro Alexandre Silveira disse que o uso do SAF eleva as expectativas de crescimento ao mercado de combustíveis, principalmente, gerando trabalho.

— A expectativa da aprovação do projeto do combustível do futuro amplia as perspectivas de investimentos em plantas de produção de combustível sustentável de aviação, gerando mais emprego e renda – disse.

As fabricantes de aviões Boeing e Embraer começaram a realizar voos de testes com fluídos que já se assemelham ao SAF. A Boeing explica que os testes são necessários para garantir a estabilidade dos sistemas de motores e evitar a deterioração de materiais, por exemplo.

— A gente sabe que é possível usar SAF nos nossos motores, mas precisamos da certificação dos órgãos reguladores. Como o SAF vai ser um pouquinho diferente do combustível fóssil, alguns materiais das aeronaves precisam ser testados à exposição por longo período de tempo, principalmente selos e borrachas, o sistemas de combustível — explicou disse Otávio Cavalett, diretor da Boeing para Políticas Públicas e Parcerias em Sustentabilidade para América Latina e Caribe.

Hoje, a ASTM (American Society for Testing and Materials), regulador de normas técnicas dos EUA, autorizou voos com uso de até 50% de SAF na mistura com o QAV. Mas a Boeing já se prepara para fabricar e vender, até 2030, aviões certificados para viajarem com 100% de SAF nos motores.

De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, sigla em inglês), a produção atual de SAF mostra desafios no mundo todo. Apesar da produção ter aumentado de 240 mil toneladas em 2022 para cerca de 500 mil toneladas em 2023, o valor é significativamente menor do que o esperado. A IATA afirma que houve atrasos e redução da produção de SAF em várias refinarias, que hoje representa apenas cerca de 0,5% da demanda total por combustíveis de aviação.

“O governo pode oferecer apoio fornecendo recursos para ajudar na implementação de unidades de produção e incentivar o uso de combustível de aviação sustentável (SAF). Isso pode ser feito por meio de reduções de impostos que levem o preço do SAF a níveis competitivos sem afetar negativamente as operações financeiras das companhias aéreas. Isso é particularmente importante no Brasil, onde os custos da aviação já são muito altos”, disse a associação em nota enviada ao GLOBO.

 

Fonte: O Globo

Av. Brigadeiro Faria Lima, 1903
conj. 91 - Jd. Paulistano
01452-911 - São Paulo - SP
+55 11 3031.4721