A Be8 (associada APROBIO) anunciou, nesta segunda-feira (2/10), o lançamento de um biocombustível com a promessa de ser uma “solução imediata” para o cumprimento de metas de descarbonização no curto prazo. Batizado de Be8 BeVant, o produto, segundo a empresa, pode ser usado na mistura com o diesel de petróleo ou até mesmo substituí-lo, abastecendo diretamente os tanques de combustível.
“Na nossa avaliação técnica, é um combustível com potencial para ser usado até mesmo 100%, tem características para isso”, diz Erasmo Carlos Batistella, presidente da Be8. “Esse produto se encaixa muito bem para empresas que já tem um compromisso de net zero”, acrescenta.
Com a nova tecnologia, a empresa obteve, pela primeira vez, duas patentes: a do produto em si e a de seu processo de produção: a do produto em si e a de seu processo de produção. O investimento total é de R$ 80 milhões, incluindo pesquisa, desenvolvimento e a estrutura para a produção de 150 milhões de litros por ano.
O Be8 BeVant é um metil éster bidestilado. É produzido a partir do biodiesel convencional, com as mesmas matérias-primas, como óleo de soja e gordura animal. Depois de fabricado, o biodiesel passa por processos físico-químicos que a empresa guarda como segredos industriais, além da chamada bidestilação.
Em comunicado, a empresa destaca que o produto tem baixo índice de acidez e não altera a cor do combustível final quando utilizado em mistura. O BeVant também é livre de contaminantes e com bom desempenho no escoamento a frio.
O produto é classificado como ULSD, sigla em inglês para diesel com baixíssimo teor de enxofre. Ainda conforme a Be8, indicou redução de até 50% nas emissões de monóxido de carbono, até 85% em material particulado e 90% em fumaça preta.
A previsão inicial é de ter o novo biocombustível em escala comercial em 12 meses, a partir da planta industrial em Passo Fundo (RS). A unidade já produz biodiesel e passará a ter a estrutura necessária para processar o BeVant. Batistella afirma, no entanto, que pode ampliar a capacidade produtiva de acordo com a demanda.
“Já temos o produto em volumes menores para testes. E estamos trabalhando para ter volumes maiores para daqui um ano. Isso vai ser de acordo com o mercado que vai se abrir”, explica o executivo.
Erasmo Carlos Batistella: “Temos um produto brasileiro, com patente brasileira, com custo muito menor que a eletrificação para oferecer” — Foto: Divulgação/Be8
Na visão da Be8, o produto chega em um momento em que empresas buscam alternativas para cumprir com seus compromissos de redução de gases de efeito estufa. Na matriz de transportes e de maquinário pesado, o uso de biocombustíveis mais eficientes é o caminho que considera mais efetivo para a transição energética.
A vantagem do BeVant, segundo ele, é não depender de alterações na motorização ou de investimentos adicionais em infraestrutura, em comparação com outras rotas tecnológicas, como a eletrificação ou o uso de biometano, o que é feito em uma pequena parcela de caminhões e tratores.
“Estamos vendo a chegada de novas plataformas, mas, neste momento, para transportes e máquinas pesadas, o que está sendo produzido é motor diesel. Então, precisamos de alternativas de combustível para a tecnologia existente”, analisa. “Temos um produto brasileiro, com patente brasileira, com custo muito menor que a eletrificação para oferecer”, acrescenta.
A Be8 não descarta a possibilidade de oferecer o novo biocombustível para exportação, mas afirma que a prioridade é o mercado interno. Além de veículos e máquinas, pode abastecer equipamentos geradores de energia. O executivo explica que o preço estimado é, em média, 10% superior ao do biodiesel convencional, mas pelo menos 50% inferior ao do HVO, o chamado diesel verde.
Batistella informa que a empresa já se reuniu com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para tratar do novo produto. E que, neste primeiro momento, será destinado a projetos de usos específicos, de acordo com a demanda de cada cliente e do previsto em lei. Nestes casos, é preciso pedir uma autorização, detalhando informações como o volume utilizado e a logística adotada.
“Essa é a primeira estratégia nossa. Vamos trazer para esse processo a distribuidora para fazer a logística, que é papel da distribuição”, pontua. “Estamos muito animados com esse produto. Acreditamos bastante no potencial dele e vamos trabalhar para torná-lo muito importante dentro do nosso portfólio”, acrescenta.
Sem detalhar números, o presidente da Be8 ressalta ainda que, do ponto de vista da eficiência de produção, o BeVant tem capacidade de gerar um volume maior de Cbios (Certificados de Descarbonização) em relação ao biodiesel convencional. “O potencial é maior porque tem uma performance maior e entrega mais redução de emissões”, ressalta.
Fonte: Globo Rural